“O que deixaremos para aqueles que virão depois de nós?” – Encontro ecumênico pré-COP30 começa no Brasil

20 March 2025Brazil

Um grupo de quase 50 líderes de igrejas, representantes de diversas tradições de fé, organizações ecumênicas, comunidades indígenas e especialistas em clima está reunido na capital do Brasil, de 18 a 20 de março, para coordenar esforços em prol de uma participação significativa na preparação para a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025. A principal preocupação do grupo: garantir que as vozes locais sejam ouvidas.
Na cerimônia de oração de abertura, realizada na Catedral Anglicana de Brasília, a bispa Marinez Bassotto, primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, enfatizou o papel da esperança na mobilização das comunidades de fé para combater as causas e consequências da crise climática.
“Essa esperança está viva, nos mantém em movimento e nos impulsiona a agir hoje. A espera pelo amanhã nos leva à luta agora. Para quem crê, a esperança é um verbo—ela se torna ação”, afirmou. “Ela deve despertar em nós a consciência da profunda interconexão de toda a criação, uma interdependência recíproca. Isso, por sua vez, deve nos inspirar a uma atitude de solidariedade e cuidado—uma postura que nos revela como filhos de Deus.”
Os participantes representam comunidades de fé de toda a América Latina e Caribe, incluindo Brasil, Colômbia, Argentina, Peru, Panamá, Bolívia, Honduras, El Salvador e República Dominicana. Entre eles, há representantes das igrejas católica, anglicanas, luteranas, metodistas, menonitas, anabatistas e reformadas, bem como organizações religiosas nacionais e regionais e redes de povos indígenas.
Além de partilhar preocupações e melhores práticas por meio de painéis de discussão, o grupo está trabalhando em um “Chamado à Ação” a ser apresentado à presidência da COP30.
Com a próxima cúpula global do clima programada para acontecer na região amazônica, o impacto da emergência climática sobre os povos indígenas é um dos pontos centrais das discussões em Brasília.
“Reconhecemos especialmente o papel dos povos indígenas, que vivem na Amazônia há milênios, cuidando do ecossistema e transmitindo conhecimentos ao longo das gerações para preservar seu lar”, disse Jocabed Solano, do Panamá, diretora da organização Memoria Indígena.
“A igreja, em seu compromisso com a justiça ambiental e social, deve apoiar firmemente essas comunidades em sua luta para defender seus territórios e reconhecer sua inestimável contribuição para o planeta”, acrescentou Solano, que também atua na Comissão do Conselho Mundial de Igrejas para Justiça Climática e Sustentabilidade.
O bispo católico Jerry Ruiz, de Honduras, refletiu sobre o significado de trabalhar ecumenicamente rumo à COP30.
“Independentemente de nossas crenças religiosas, acredito que o que nos une é o mesmo espírito. Somos unidos pelo clamor da terra, pelo clamor dos pobres, pela necessidade de justiça, pelas comunidades criminalizadas, deslocadas e assassinadas”, afirmou. “E isso deve nos ajudar a superar nossas diferenças, porque é o Reino de Deus que nos une em um mesmo objetivo e propósito”, acrescentou Ruiz.
Este evento é organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas, ACT Alliance, Christian Aid, Anglican Alliance, Escritório da Comunhão Anglicana na ONU, Federação Luterana Mundial, Caritas Internationalis, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Conferência dos Bispos da América Latina.